Economia

INDÚSTRIA NACIONAL X CONSUMO INTERNO

O setor industrial segue célere seu destino de ser engolido pelos importados, processo verificado de forma crescente e fortemente incrementado no ano passado.

Entre os fatores deste massacre, a taciturna política econômica implementada no país, que é muito lenta ao reagir ao dinâmico mercado internacional e suas investidas leoninas.

Assistimos às famintas investidas dos produtores internacionais ao nosso alegado saudável mercado consumidor interno, quase nos ufanando por estarmos aparentemente longe da ruína dos tradicionais mercados norte-americano e europeu, e isso nos faz cochilar sobre louros enganosos de quem pensa que está imune ao panorama mundial nada tranqüilizador.

Por conta disso, ao verificarmos os indicadores econômicos do ano de 2011, não podemos deixar de ficar preocupados com os rumos reservados ao nosso setor produtivo.

No geral, em 2011 22,8% de todos os manufaturados consumidos no Brasil veio de fora. Não é este articulista defensor de algum ingênuo processo de isolamento econômico do país, para nos tornarmos de uma impossível suposta autosuficiencia em alguma coisa neste mundo cada vez mais com cara de aldeia global.

Porém vimos ontem, 1º. de Fevereiro, nossos hermanos da Argentina impor um pacote de controle geral de importações que afeta diretamente ao seu maior parceiro comercial, nós, colunas que somos do malfadado bloco econômico chamado de Mercosul: às favas com várias garantias de condições privilegiadas de trâmites e tributação de mercadorias entre os países membros, Brasil e Argentina dividindo o status e a responsabilidade de serem as firmes colunas que o sustentam.

No âmbito geral do comércio internacional, outros blocos econômicos e outras nações miram nossos consumidor interno, vários deles empolgados por terem nas mãos algum produto importado, não visualizando que, enquanto consumimos massivamente coisas que vêm do outro lado do planeta, prejudicamos nosso quadro interno de desenvolvimento tecnológico, emprego e até mesmo a balança comercial.

Conseqüências imediatas disso:

Mercado de celulares: a importação de aparelhos em 2011 cresceu de 7 milhões de aparelhos em 2010 para 15 milhões de aparelhos em 2011. Em contrapartida, as exportações brasileiras de do mesmo equipamento retraiu-se de 13 milhões de aparelhos em 2010 para 7 milhões em 2011 (Abinee). Este quadro revela vários sintomas a serem avaliados com carinho: o já identificado há décadas, famoso e propalado embora jamais atacado a sério “custo Brasil”, que inviabiliza uma concorrência competitiva com os produtos fabricados em economias mais dinâmicas, somado ao avanço tecnológico a passos galopantes e exponenciais conseguido nos fabricantes notadamente asiáticos, cuja corrida já estamos perdendo…

O resumo do mercado de celulares: em 2011 as importações crescerem 111% em valores, e nossas exportações despencaram 48% idem; as importações de equipamentos de telecomunicações no ano passado aumentaram em 35% em relação a 2010, e nossas exportações diminuíram em 19%.

No setor automotivo, onde o Brasil tem o 3º. Mercado consumidor do planeta, nosso “acordo” comercial com o simpático México resultou em 2011 em importações de 2 bilhões de dólares de veículos e peças daquele país, contra exportações de míseros 372 milhões na mesma moeda. (Isso sem falar que os milhares de carros que vêm daquele país circulam em nossas ruas e estradas com equipamentos de segurança que não atendem as especificações da autoridade brasileira de transito(!)). Com base nas “facilidades” do acordo, os lançamentos de veículos ultramodernos e luxuosos que fazem a delícia do deslumbrado consumidor brasileiro que poderiam e deveriam ser fabricados aqui em Pindorama, o são na terra da tequila, enquanto nossas fábricas de automotivos encolhem com o fim de linha de modelos antigos e ultrapassados tecnologicamente. Os carros que os fabricantes resolvem fabricar por estas paragens simplesmente não agregam o que há de mais moderno e avançado, e contribuímos para que os outros países, os fabricantes, se distanciem cada vez mais na vertiginosa corrida tecnológica.

24,4% dos veículos vendidos em 2011 não falam o delicioso português do Brasil (literalmente: seus comandos em língua estrangeira escancaradamente ignoram os dizeres do nosso Código de Defesa do Consumidor, em processo já denunciado aqui – engraçado: há alguns anos trabalhava na filial brasileira de um dos maiores fabricantes de tratores do mundo, e exportávamos várias unidades para a Arábia Saudita. Nenhum trator saía dos portões da indústria sem que todos os seus comandos estivessem grafados na língua pátria do destinatário. Aqui, não nos importamos de comprar coisas com instruções e indicações ininteligíveis ao nosso uso…), e as importações cresceram em valor 21,5% em 2011 em relação a 2010, e nossa atividade industrial no mesmo ramo cresceu apenas 2,4%, autopeças inclusas.

No setor têxtil, um dos maiores produtores mundiais de algodão viu sua indústria de transformação deste material encolher 14,9% em 2011, ao passo em que verificamos que mais de ¼ do que consumimos no mesmo ano veio de fora.

É o fenômeno da desindustrialização de vários setores tupiniquins. Não é necessário ser economista ou algum grande especialista na área para entender que o incremento das importações de manufaturados implica o fechamento das indústrias locais, com todas as conseqüências sociais e trabalhistas, e o abandono de processos de aperfeiçoamento técnico dos produtos, o que a médio e longo prazo pode inviabilizar seriamente a atividade industrial de ponta no país.

Incomoda ver que somos grandes exportadores de matérias primas, suco de laranja, café e soja, e cada vez mais nos apresentamos para reassumir nosso papel que tão bem já desempenhamos historicamente, por séculos, na época do Brasil-Colônia: grandes importadores de manufaturados.

Wagner Woelke

Artigo publicado originalmente em http://perspectiva-lusofona.weebly.com/2/category/wagner%20woelke/1.html, em 02/11/2012