GABRIEL SANTAMARIA, Psicanalista e Escritor: A Receita Para Uma Literatura Profunda

GABRIEL SANTAMARIA, Psicanalista e Escritor: A Receita Para Uma Literatura Profunda

7 de maio de 2019 Off Por admin

Existe algo mais instigante do que a psique humana? Investigar as profundezas da mente, e os seus pensamentos, sentimentos, e percepções é tarefa de quem gosta de ir muito fundo no entendimento da questão humana… (Foto da capa: GABRIEL SANTAMARIA em entrevista para CARLOS SÍLVIO, da RÁDIO CONECTADOS)

A questão humana é o objeto da psicologia profunda…

Tal é o universo onde o escritor paulistano GABRIEL SANTAMARIA navega, para depois transformar em obras literárias profundas, investigativas e elucidativas dos mistérios mais íntimos do ser humano, com as quais nos brinda: são romances, contos, poesia…

O EVANGELHO DOS LOUCOS

Trecho:

“Ela se tornou a minha obsessão. Vejo-a sem saber, com certeza, se é fantasia ou realidade. Também ouço: o timbre digitalizado, mesclado aos ruídos do aparelho, chegando via satélite ou o toc-toc dos saltos no calçamento. Ela rasga o tecido deste mundo, o mundo normal e acinzentado onde habito, e simplesmente invade. Seu olhar, um verdadeiro enigma. Suas pernas delgadas seduzem, obrigando-me a rastrear-lhe a passagem. Confundo-me. Sinto-me desnorteado, às vezes. Como será a consistência daquela carne, medito. Se me fosse permitido tocá-la, se eu a segurasse firmemente, prendendo-lhe os braços com as minhas mãos. De pensar, estremeço. Sua pele é morena e lustrosa. Quente, talvez. Sim, é quente, e suspeito: há nela, na mulher, minha repentina obsessão, sinais de descendência mourisca.”

O ARCANO DA MORTE

TRECHO:

“Depois do jantar, acomodados na sala de repouso, o Conde sugeriu que Aristides e eu participássemos de um jogo que, naquele momento, me pareceu um tipo de encenação. A ideia consistia basicamente em trocarmos de identidade durante certo tempo. Sou uma artista de palco, e não digo que assumir outra personagem esteja distante do que estou acostumada, mas Aristides sempre se mostrou um homem sério e pragmático, nunca afeito a situações dessa natureza. Sendo assim, supus que ele não aceitaria a proposta, no entanto, o fato é que terminei surpreendida. Meu marido acatou a sugestão de imediato, e procurou desempenhar o papel com diligência, assumindo uma identidade que jamais foi a dele. Porém, antes de começarmos, o Conde afirmou ser conveniente termos um símbolo de realidade capaz de garantir a estrutura do jogo, algo que servisse como totem. Ele utilizou exatamente esse termo: totem. Foi nesse momento que apresentou a carteira, ela seria nosso totem, e deveria ficar em posse de Aristides durante a encenação. Garanto que eu particularmente não toquei na carteira, somente Aristides teve permissão. Me recordo que ele observou o totem com gravidade, analisou o exterior e o interior, e deve ter reconhecido que se tratava decerto de um artigo elegante. Desse modo, tudo começou. O Conde dirigiu a encenação: Aristides deveria encarnar inicialmente um tutor de atitudes conservadoras, o católico tipicamente tradicionalista, cheio de moralismo e severidade, em contrapartida, eu assumiria a postura de uma estudante universitária, algo ingênua e inexperiente. O curioso é que não existia nunca exatamente um roteiro. O Conde ia orientando as coisas, insinuando algumas situações, estimulando conflitos e debates, e embora eu tivesse achado muito confuso, de início, logo me envolvi totalmente no jogo, e comecei a considerá-lo estimulante. Creio que Aristides também estivesse se comprazendo, mas de uma maneira diferente, sendo rigoroso, por exemplo, cumprindo fielmente o papel designado, se submetendo aos desígnios do Conde de modo absoluto. Houve mudanças de personagens, em determinado momento, e Aristides deixou de se apresentar como católico conservador, se tornando um degenerado afeito a compromissos com mulheres de caráter leviano. E a mim me coube assumir a carapuça desse tipo de pessoa. Isso naturalmente foi um choque, porém, como aceitara participar daquilo, decidi encarnar a tal personagem que, diferente da anterior, tinha uma alcunha específica. Conforme a cena ia se desenrolando, o convidado de Aristides fomentava nele um comportamento mais agressivo, dominador, dando a entender que àquele indivíduo degenerado cabia o papel de macho dominante. Portanto, eu deveria me comportar como uma fêmea submissa. Como da vez anterior, meu marido cumpria fielmente o acordo, agindo com arrogância e me tratando rudemente. Eu, sem coragem de abandonar o jogo, suportava tudo, me esforçando por admitir uma tolerância que não é da minha natureza. Mas a verdade era que eu me encontrava já exasperada com a excentricidade do Conde, e não compreendia bem por que motivo Aristides se permitia dirigir tão tranquilamente.”

NO TEMPO DOS SEGREDOS

SINOPSE:

O único intento de Gaspar Fernandes consistia em fruir o tempo da aposentadoria dedicando-se aos livros de sua biblioteca, mas uma correspondência endereçada por um antigo amor de juventude modifica as estruturas de sua existência. Tendo recebido também o diagnóstico a respeito de um tumor, e sabendo que lhe restam poucos meses de vida, Gaspar mergulha em uma redescoberta do passado na companhia de Carol, uma chef de cozinha que, casualmente, se transforma em sua amiga. Neste romance, Gabriel Santamaria ergue os véus de segredos que, durante décadas, encobriram a verdade sobre o relacionamento entre um estudante brasileiro de literatura residente em Lisboa e uma fotógrafa portuguesa. Temperado com versos de poetas brasileiros e lusitanos, o romance NO TEMPO DOS SEGREDOS cativará os leitores imediatamente.

O SABER SILENCIOSO DAS COISAS

Como se o poeta se debruçasse sobre um rio de águas límpidas, e ali se refletissem suas feições e também seus sentimentos, seus dilemas e também suas esperanças, os poemas reunidos neste livro revelam a intimidade de um indivíduo. Ora conduzindo o leitor por labirintos da alma humana, ora descortinando paisagens naturais, Gabriel Santamaria oferece nesta obra o vislumbre de novos aspectos de sua veia poética.

PARA LER NO CAMINHO

Em PARA LER NO CAMINHO, de Gabriel Santamaria, é um livro que pretende acompanhar você em seus percursos. Nos textos aqui reunidos, o autor escreve em estilo leve sobre viagens, sonhos, autoconhecimento, espiritualidade, etc. Eis uma obra que pode ser lida em uma excursão turística, durante o trajeto para o trabalho, nas horas de lazer ou em qualquer momento em que o leitor deseje mergulhar em textos agradáveis.

ASSIM MORRE A INOCÊNCIA

No ambiente opressivo de um cárcere onde presos políticos esperam a execução matutina ou a quilômetros de distância da civilização, em uma ilha, aguardando resgate, os personagens desta obra são confrontados com expectativas e questões essenciais. Nesta coletânea que reúne doze contos – segundo livro publicado por Gabriel Santamaria, autor do romance O Evangelho dos Loucos –, os leitores são convidados ao encontro com tipos humanos cujas personalidades complexas e labirínticas dão o tom da narrativa.

DESTINO NAVEGANTE

Autor de O Evangelho dos Loucos (romance) e Assim Morre a Inocência (contos), Gabriel Santamaria traz neste volume uma coletânea de poemas em que os temas do silêncio, do amor, da devoção e da liberdade encontram-se no centro de sua reflexão poética.

O AUTOR




“O que me inspira todos os dias a escrever é tanto uma necessidade visceral de expressar o meu universo interior quanto a urgência de traduzir o mundo exterior em palavras”.

GABRIEL SANTAMARIA (pseudônimo do escritor Gabriel Viviani de Sousa) nasceu em São Paulo no ano de 1977. Com pouco mais de vinte anos, conheceu pessoalmente o poeta brasileiro Bruno Tolentino, tendo entabulado com este conversas a respeito de literatura, filosofia e religião, contato que foi extremamente importante para seu desenvolvimento poético. Autor de sete livros: os romances “NO TEMPO DOS SEGREDOS”, “O EVANGELHO DOS LOUCOS”, “O ARCANO DA MORTE”, o livro de contos “ASSIM MORRE A INOCÊNCIA”, o livro de crônicas “PARA LER NO CAMINHO”, e as obras de poesia “DESTINO NAVEGANTE” e “O SABER SILENCIOSO DAS COISAS”.        É também psicanalista formado pelo Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica.